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Diário de Quarenta: Um ano depois ...

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26 de março de 2021, um ano depois ... em um ano quanta coisa aconteceu e quanto a gente já viveu. Viveu? Ou ainda estamos vivendo? Será que vamos viver mais um ano? E eu que estava achando que estava segurando bem essa onda de quarentena produtiva, ano produtivo de professora universitária, servidora pública, privilegiada, posso continuar trabalhando de casa, dando aula de casa, gravando podcast de sintaxe de casa, lendo os textos de casa, gravando vídeos de sintaxe de casa, escrevendo os artigos de casa, orientando os alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado de casa, coordenando curso de graduação de casa, pensei: mais um ano quarentenada vai ser tranquilo. Segurei a onda, fiz pão, comecei uma composteira, produzi húmus, fiz pão, comecei um projeto paisagístico na minha varanda, fiz pão, plantei plantinhas, fiz pão, já falei que fiz pão? Fazia tudo isso enquanto dava aula, lia os textos, orientava os alunos, fazia um podcast, gravava um video, resolvia um assunto da coord

Diário de Quarentena: "O sistema de pronomes neutros e o preconceito linguístico: resposta ao Isaque"

  Ora ora, não é que a linguagem neutra está dando o que falar? E a coluna de hoje foi escrita pela professora Carolina Serra, minha colega da UFRJ, que vem nos falar sobre o preconceito linguístico.  Espero que gostem! Porque eu amei! ******************************** O sistema de pronomes neutros e o preconceito linguístico: resposta ao Isaque Carolina Serra (UFRJ) carolinaserra@letras.ufrj.br Meu querido ex-aluno de variação linguística, o Isaque Flausino, me escreveu em setembro último querendo saber meu ponto de vista, como linguista, sobre a criação de um sistema de pronomes neutros na língua (linguagem não-binária). As perguntas dele eram as seguintes: “ Será que não seria uma imposição linguística? Isso não afetaria partes da configuração já solidificada da língua ?” Eu procurei responder ao Isaque como eu responderia em uma aula de variação, disciplina dada na UFRJ no 2º período de todos os cursos de Letras. Aí vão: Será que não seria uma imposição linguística ?  Sobre a possib

Diário de Quarentena: sete meses depois e eu vou falar do pronome neutro ou a peleja pronome neutro x preço do quilo do arroz

Bom, eu ia me manter em silêncio sobre a treta dos pronomes neutros em português, até que, ontem, conversando com Isabela, uma jovem de 17 anos, muito inteligente e interessante, ela me perguntou: então, Silvia, o que você acha da história do pronome neutro? E aí eu levantei a sobrancelha e perguntei: ihhh, você quer saber mesmo? E aí começamos a conversar sobre o assunto e a linguista que habita em mim não me deixou mais calada. Então vamos lá. Sobre o uso da "linguagem neutra" em português, eu vou organizar esse texto em três partes: (1) em que eu tento uma explicação dentro da morfologia seguindo Câmara Jr.; (2) em que eu falo sobre a visão da Sociolinguística sobre o fenômeno e (3) parem de ser prescritivistas e reducionistas. O que está acontecendo no PB? Algumas pessoas começaram a usar marcas morfológicas de gênero neutro para marcar seu gênero social. Em português, surgem pronomes pessoais e possessivos como neutro: "elu", "delu". Além dos pronomes

Diário de Quarentena: Enem durante a pandemia?

Eu estudei no melhor colégio particular do meu bairro, que se gabava de estar entre os dez melhores em aprovação no vestibular pras universidades federais. Cada início de ano, os pais recebiam uma lista com os nomes dos alunos do terceiro ano e as universidades pra onde tinham sido aprovados. E isso era enfatizado (massacrado) na nossa cabeça desde o primeiro ano, quando já começava uma pressão muito grande para aprovação no vestibular. Eu só vou contar duas histórias sobre a pressão: Eu estava no primeiro ano, e me lembro como se fosse ontem (semana passada, dada minha idade) o dia seguinte da notícia da queda do Muro de Berlim, de manhã, no caminho para a escola, a minha maior preocupação, junto com a ansiedade, era que agora tinha uma peça nova na historia contemporânea que poderia cair na prova de história. Foi o caminho mais longo que eu fiz da minha casa até a escola, que ficavam dois quarteirões de distância. No meu segundo ano, papa Bush declara guerra contra o Iraque e começa

Diário de Quarentena: um mês depois

Querido diário, Comecei direitinho fazendo pequenas crônicas sobre o dia a dia dessa quarentena até o 11º. dia de quarentena quando eu furei o isolamento social e fui comprar sorvete porque eu estava a fim de comer um Magnum. E olha que eu nem tenho hábito de tomar picolé, muito menos Magnum. Mas aí eu fiquei a fim e saí de casa só pra isso. E aí esqueci. Me acabei no Magnum e esqueci de diário, de rotina, de tentar manter a mente sã nessa quarentena louca... Voltei! ÊEE pra meus dois ou três leitores que esperam ansiosamente pelos meus textos... Vou fazer então um balanço dessas quatro semanas, cinco semanas, sei lá quantas semanas. Pelas minhas contas, hoje é o dia 37 da quarentena (estou contando a partir de 16/03/2020, quando a UFRJ mandou a gente ficar em casa trabalhando remotamente). Eu tenho tentado ter uma rotina, mas, obviamente, não tenho conseguido. Algumas vezes a ansiedade bate e as coisas não ficam nada boas. Tenho tido uns sonhos estranhos. E eu resolvi fazer o que

Diário de Quarentena: Dia 10

Quarta-feira, 25/03/2020 Querido diário,  Para me manter mentalmente sã e não ser afetada pelos comentários ideológicos do governo federal eu sigo cozinhando. Hoje fiz bacalhau com batatas. Ficou uma delícia. Harmonizou com uma Heineken bem gelada.  Um dos melhores momentos do dia foram os áudios que David me mandou.  “Tia Silvinha, tão dizendo que Uderzo morreu, aquele que inventou o Asterix.  Pô fiquei acabado, agora não quero mais saber de nada. Morreu Uderzo. Sacanagem.  Podiam botar um menir no lugar de lápide. Ia ser legal. Puxa vida.” Eu gostei desses áudios por dois motivos: primeiro que meu adolescente favorito me chamou de tia Silvinha, como há muito não me chamava. Ele passou a me chamar de Silvinha depois que cresceu. Sem o “tia”. E aí agora me chamando de tia Silvinha bateu uma saudadezinha do Davizinho pequenininho. E segundo porque temos os mesmos heróis: Asteriz e Obelix. E o desencantamento veio quando da morte do criador dos nossos heróis e eu achei muito fofo: “agora

Diário de Quarentena: Dia 9

Terça-feira, 24/03/2020 Querido diário,  Fui adiantar o almoço e acabei almoçando as 10:30 da manhã. Aí resolvi arrumar a cozinha lavei a louça, o piso, a varanda, a casa toda. Bebi cerveja.  Minha quarentena produtiva está se resumindo a fazer comida, congelar comida, limpar a casa e beber cerveja. Isso tem que mudar.  Hoje teve pronunciamento do presidente em rede nacional. E teve panelaço. Depois desse pronunciamento, a vontade era de bater com a cabeça na parede na parede. Não a minha.  Pra dormir hoje, eu vou ter que tomar um Lexotan.  Amanhã vai ser outro dia. Hoje eu vou dormir a base de remédio. Boa noite.